VIRTUALIZARAM AS VIRTUDES

17/12/2018

***(Dorian Gray hoje nem precisaria vender a alma ao demônio para ficar tão belo)*** 

Lacan dizia que somos seres da falta, que sempre estaremos em busca de algo para completar a falta. E que sempre idealizamos algo, para suprir a falta real desse algo. Eu só não imaginava que o real seria substituído, ou melhor, sabotado, não pelo ideal, mas sim pelo virtual.

Nos tempos atuais, as virtudes, a contragosto do filósofo Luiz Felipe Pondé, jamais poderão ser silenciosas e falarem pouco de si mesmas. As redes sociais potencializaram um fenômeno de marketing das virtudes que engana qualquer desavisado. Claro!, ser bom é bonito, fica bem visto, gera likes e dá seguidores no Instagram ou Twitter.

No nosso mundo ainda assolado pelo messianismo, pelo sentimento de manada, as pessoas carentes de uma figura paternal (paternalismo), procuram um exemplo para "seguir". Essas pessoas amam ver gestos bonitos e demonstrações de virtudes como caridade, empatia, assistência etc ( e quem não gosta?) e viram seguidores reais, pelos meios virtuais.

A própria rede social incita isso: seguidores e seguidos.

Dentre os muitos grupos humanos, alguns entenderam muito bem isso. Eles são ótimos em fingir virtudes que muitas vezes não tem em nome da imagem que desejam passar.

Quando o sujeito tira foto com um cachorro de rua, fazendo alguma ação de caridade ou o que quer que seja, ele na verdade está vendendo a sua pretensa virtude. Ele está dizendo: "Vejam como eu sou bondoso, como eu ajudo este pobre cachorrinho abandonado."

Likes inflam o ego, trazem a mídia e o patrocínio junto.

Claro que há exceções, mas a virtualização das virtudes nunca foi em prol de ninguém a não ser de si mesmo. Ser bom na internet dá receita. Caridade em silêncio é tolice, diria um bom marketeiro.

Se fossem políticos, já teriam a lição da autopromoção tirada de letra... se fossem sociopatas....bem...que se cuidem os sociopatas.

Temo que essa grande cortina de falsas virtudes acabe confundindo demais a mente das pessoas, e tome o lugar do real, pois o real é por vezes inaceitável, intragável, duro e cruel. Por isso, quando vemos esses seres virtuosos virtuais mostrando seu lado não tão bom, nos assustamos, ficamos impressionados...

O real precede o imaginário, e mesmo assim, somos nós que tentamos adequá-lo a nossas pretensões ideais. Como vivemos numa sociedade de aparências, apreciamos qualquer demonstração aparente, sem avaliar a real intenção. Daí se criam legiões de seguidores, de ídólatras de youtubers, amando e seguindo likes, fotos, e declarações..

Tudo ou quase tudo é feito em nome da imagem, não do real.

E uma geração está sendo sugada e hipnotizada pela imagem, pela virtude virtual, igual ao "American life style", onde vemos o sujeito que chega em casa ávido para ligar logo a tv e ver o programinha semanal imperdível.

Se o Dorian Gray fosse um ser entre nós hoje, aplaudiria de pé essa geração, e ele nem precisaria vender a alma ao demônio. A imagem horrenda de si mesmo ficaria somente por trás da tela, ninguém veria.

Por isso é bom ter cuidado com os peregrinos da virtude. Eles fingem muito bem o que não são, e você faz força pra fingir que acredita neles.


Em tempo, uma frase que eu acho muito oportuna para a atualidade:

"As virtudes são silenciosas e falam pouco de si mesmas." (Luiz F. Pondé - A Era do Ressentimento)


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